Na primeira acepção, ele significa Deus-Criador. A origem desta palavra vem de Kamu, e indica a ação de amor que cria as coisas pela união harmoniosa do superior com o inferior, do céu com a terra, do polo negativo com o polo positivo. Kami (Deus), na primeira acepção, é ”Deus Criador” que tudo cria pela harmoniosa união do negativo com o positivo, isto é, pela ação do amor.
Na segunda acepção, kami é ”Ser que emite Luz”. Na seita Ittoen dizem ”sagrada Luz”. No budismo se diz ”Luz Misteriosa” ou ”Buda de luz infinita”. No cristianismo, lê-se no Gênesis: ”Deus disse: Exista a Luz. E a Luz existiu”. Nesta segunda acepção, Deus é a Luz salvadora que se manifesta do mundo absoluto, atendendo aos anseios de salvação dos homens e assumindo diferentes imagens conforme as circunstâncias.
É o caso dos anjos, de que fala o cristianismo. Eles são concretizações das vibrações espirituais de salvação emitidas por Deus absoluto e único. A divindade da Seicho-No-Ie que alguns adeptos viram pela vidência é também uma corporificação das ondas espirituais de salvação.
Em quaisquer casos, a origem é uma só, diferem os nomes conforme a missão. Por exemplo, Avalokitesvara (que percebe a voz do mundo) tem esse nome porque sua função é orientar as pessoas, percebendo-lhe a necessidade e o mudo clamor. Amithaba (Luz eterna) é assim chamado porque tem a função de iluminar e salvar eternamente as pessoas, inclusive após a morte física. A divindade Amaterasu (que ilumina o Universo) é o nome dado à função de iluminar o Universo e vivificar todos os seres. Divindade da Seicho-No-Ie (Lar do progredir infinito), em sentido restrito tem a função de fazer os lares progredirem e, em sentido lato, significa força salvadora que propaga a Verdade que rege o Universo (Grande Lar). Na Essência, Deus é UM, mas emite diferentes ondas espirituais de salvação, e por isso há diferentes imagens vistas através da vidência. Isto se compara à luz solar que, embora única na origem, se vista através de um prisma, desdobra-se em sete cores, cada uma influenciando diferentemente o corpo humano.
Na terceira acepção, kami (Deus) é uma abreviação de kakurimi (corpo que está oculto, não visível aos olhos carnais). Porém, não é que não possua corpo; é provido de um corpo muito sutil. São muito diversificados os tipos de kami dessa categoria: entre os inferiores, existem espíritos desencarnados de seres humanos que ainda não despertaram para a Verdade e também de animais; entre os superiores, há espíritos humanos que, tendo consegido o grau divino, habitam mundos divinos muito elevados.
No budismo se diz que aquele que pratica o bem nesse mundo nascerá no ”céu”, e o deuses que estão nos ”céus” (mundos espirituais elevados) pertencem a esta categoria de Kami.
Deus da Seicho-No-Ie é uma das manifestações do Amor de Deus
Para obtermos a correção metafísica do destino, orem a Deus antes de mais nada. Para nós, a situação presente já está determinada mas, para Deus, há sempre margem para retificação. O que dizer então de nossa vida futura, ainda não determinada, quando nos ligarmos a Deus por meio da oração? É indiscutível que haverá grande melhora. Deus ao qual dirigimos nossas orações tem de ser o Deus da Luz que elimina a treva, o Deus do Amor absoluto e infinito que perdoa todos os pecados. E aquele ao qual chamamos de ”Deus da Seicho-No-Ie” é uma das manifestações desse Deus do Amor.
Deus da Seicho-No-Ie é a vibração personificada que se manifestou por meio da Seicho-No-Ie
Reverenciar Deus através da Seicho-No-Ie significa ”reverenciá-Lo através da conscientização do Jissô da Vida”. Seja de que religião for, se a pessoa invocar Deus com a mente em ilusão, só receberá graças condizentes com esse estado de ilusão. Porém, se a pessoa O invocar com a mente que tomou consciência do Jissô, Ele manifestará a verdadeira força e revelará a Sua verdadeira imagem.
Quando digo ”Deus manifestado através da Seicho-No-Ie”, é possível que algumas pessoas pensem que se trata de uma divindade sectária, ou seja, uma divindade exclusiva da Seicho-No-Ie. Mas não é nada disso. Refiro-me ao Jissô da Vida que se manifesta através da Seicho-No-Ie como vibrações espirituais para iluminar a humanidade. Receando que as palavras ”vibração” ou ”ondas vibratórias” pudessem soar como algo relacionado com a Física e dificultar a compreensão do Jissô da Vida, e considerando o fato de que, às vezes, Deus manifesta-Se de modo personificado, achei conveniente usar o termo ”Deus manifestado através da Seicho-No-Ie”. Algumas pessoas dizem que, ao reverenciar o ”Deus manifestado através”, sentem conflito interior, tem a sensação de estar servindo a dois deuses, pois até então reverenciavam Deus (ou Buda) de uma determinada religião. Se assim sentem, é porque se prendem à denominação e não conhecem verdadeiramente o ”Deus que se manifesta através da Seicho-No-Ie”. Como se pode constatar em vários relatos de experiência, quando se reverencia Cristo (ou Buda) à luz dos ensinamentos da Seicho-No-Ie, os seus poderes se manifestam mais nitidamente.
Deus está dentro de nós mesmos
”Tenho as chaves da morte e da região dos mortos. (…) Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim” – diz o ancião que aparece entre os sete candeeiros citados no Apocalipse. Este é o Deus da Seicho-No-Ie, é Deus Sumiyoshi, Deus Shiotsuti, Deus do Mar (UMI em japonês), Deus da Criação (também UMI em japonês).
Sendo Deus da Criação, tem obviamente as chaves da vida também. E onde está agora esse Deus da Criação, que possui as chaves da vida e da morte? Ele está, agora, dentro de cada um de nós, dentro de você mesmo. Por conseguinte, a vida e a morte estão dentro de nós mesmos. Morre aquele que mata a si mesmo, e vive aquele que vivifica a si mesmo.
Deus Shiotsuti está no Templo Shiogama, no Templo Sumiyoshi, mas é um erro pensar que Deus esteja somente dentro de um templo e não em outros lugares.
Shi-o-tsu-ti é Shi = água, Ho = fogo, tsu = é a conjunção que liga duas palavras; ti = Espírito. Resumindo, Shi-o-tsu-ti é Espírito da água e do fogo. Em outras palavras, são a Pérola Shio-mitsu (maré enchente) e a Pérola Shio-hiru (maré vazante).
Todas as coisas são constituídas pela união dos princípios do fogo e da água, isto é, das polaridades positiva e negativa. Todas as pessoas possuem a Pérola Shio-mitsu e a Pérola Shio-hiru. Este é o Deus Shiotsuti, que se aloja em cada um de nós. Podemos dizer, então, que todas as pessoas possuem as chaves da vida e da morte.
Se existisse fora de nós uma autoridade com poder absoluto que possuísse as chaves da nossa vida e da nossa morte, então nós seríamos escravos dele; não poderíamos dizer que o homem é um ser independente e autônomo. Chamamos de Nyoi-hoju aquele que é independente e autônomo. E onde está esse Espírito da Água e do Fogo? Ele está dentro de cada um de nós. Temos dentro de nós as Pérolas Shio-mitsu e Shio-hiru. O fogo (hi) tem a função de hiru (maré vazante). A água (mizu) tem a função de mitsuru (maré enchente). Essas duas funções – vazante e enchente -, agindo em harmonia, é que nos vivificam. Se estamos com saúde, mantendo uma determinada temperatura corporal, é graças ao trabalho de Deus Shiotsuti.
A temperatura do nosso corpo é mantida aproximadamente em 36 graus porque estão agindo em harmonia a força do fogo, que aquece, e da água, que esfria. Se agisse apenas o Espírito do Fogo, o nosso corpo se aqueceria até acabar queimado. E se existisse apenas Água, sem calor algum, ela ficaria congelada, e consequentemente não existiria a função fisiológica do nosso organismo.
Por isso, Deus Shiotsuti está dentro de nós, possuindo as chaves da vida e da morte. Se alguém pensa que Deus está em outro lugar e que, orando a Deus, ele estará protegido, mesmo sendo ganancioso e sem purificar a sua mente, está redondamente enganado. Quando a pessoa está com a mente impura, gananciosa, egoísta e cheia de apegos, ficam encobertas as virtudes de Deus Shiotsuti alojadas em seu interior.
A Vida que habita em cada um de nós é Deus Shiotsuti, é o Espírito da Água e do Fogo, é o Nyoi-hoju (a pérola dos desejos), é a união do fogo e da água, representada na cruz. Alguns pensam que a cruz seja o símbolo da crucificação de Cristo – em parte, é isso mesmo -, mas ele simboliza a união do fogo e da água. O fogo é vertical, e a água é horizontal.
Mestre Masaharu Taniguchi
Artigo Revista ”Taniguchi Masaharu Sensei O Manabu” Ano II (2013) n. 20, pág. 35 a 43. Tradução Inédita para Português.